domingo, 17 de agosto de 2014

Da cadeira na calçada

Na 'minha' cidade, as pessoas põem a cadeira em frente à calçada de suas casas para assistir a alguns capítulos de uma novela chamada Vida. Não nego ter observado, também, que são os mais velhos a praticarem esse tipo de exercício. Nunca o pratiquei. Mas, admirei o gesto. Achei melhor não antecipar rugas, e não ocupei meus pensamentos julgando o que de mais 'útil' os senhores de suas cadeiras poderiam estar fazendo. Parei para admirar a paz que pode haver na cadeira da calçada. Esta não é uma cidade badalada, as ruas mais movimentadas são poucas, mas, no trecho de cada rua existe poesia. Fiquei pensando no quanto os mais velhos podem estar curtindo o seu momento de telespectador. Pensei que pode-se ter criado o gosto por pegar um pouco da vida do outro emprestado. Como se assistir e respirar alguns trechos da vida que passa (para todos) fornecesse uma dosagem de ar com um tanto a mais de oxigênio... Como se o fato de respirar e olhar tocasse a alma com um sabor diferenciado.
Não os julguei inválidos, tampouco inúteis... Não tirei o mérito da canseira, a reconheci. 
Assim, admirei a sutileza da ousadia - arrastar a cadeira das mesas em direção à calçada, assistir a novela da rua da Vida, no Jardim Sem Pressa, número 100 (preocupação).

E também foi assim que passei a enxergar mais sentido em Quintana, quando "eles passarão, eu passarinho"...