domingo, 9 de fevereiro de 2014

no dia 01/12/2012, escrevi isso, e... por alguma razão, guardei:

Hoje, enquanto passava de carro por uma rua razoavelmente movimentada, em minha cidade, quase de frente comigo havia uma mulher. Essa mulher estava vestida com uma blusa e saia brancas, cabelos emaranhados, pés descalços, e olhar perdido assim como ela, que andava pela rua como se andasse pela areia de uma praia. Eram os carros que estavam se esforçando para desviar dela. A mulher não demonstrou a menor preocupação ou medo diante do que pudesse lhe atingir. Pensei. Pensei... Como pode uma criatura chegar a esse ponto? Ninguém quis ajudá-la? Ou será que foi ela quem não aceitou ajuda e os outros desistiram? Abandonaram-na? Ou ela abandonou os "seus"? De todas essas dúvidas, a maior certeza era a pior - Ela SE abandonou. Abandonou-se de si mesma.
Senti uma vontade estranha de parar o carro e conversar. Mas não conversar para oferecer ajuda, porque eu nem me sinto capaz de dar ou devolver tudo o que ela precisa. De qualquer forma, senti vontade de ouvi-la, de pedir a ela para que falasse o que sentisse. Quanta impotência da minha parte. Quantas dúvidas...
Não pude parar. Precisava levar minha mãe a um local com hora marcada. Não cheguei a dizer muito a respeito, apenas disse "meu Deus! que judiação". Minha mãe chegou a responder parte de minha dúvidas -  Pessoas de alguma instituição da cidade tentaram ajudar aquela mulher, mas ela voltara para rua mais de uma vez. A voz em minha cabeça gritou: POR QUÊ????????
Como deve ser horrível estar no mundo e não ver mais graça em pertencê-lo. Que solidão terrível deve ser esta de estar indiferente em relação ao mundo. Parece que, para aquela mulher, se o mundo acabasse naquele segundo ou, se em um passe de mágica, alguém aparecesse e dissesse que a vida de nossos corpos aqui na Terra passaria a ser eterna a partir de agora, daria na mesma.
Vi que a mulher de branco estava viva, mas tão morta, com olhos tão mecânicos e cansados de olhar, incapazes de admirar qualquer coisa... doeu.

pior que vergonha alheia, talvez seja a dor alheia...

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Oi, tudo bem?


"Oi, tudo bem?"

(como é horrível ser atriz quando tudo vai mal) Abro um sorriso, e respondo:

"Tudo, e você?"

"Tudo bem, também"

(será que el@ tá bem, mesmo? Parece estar. Mas, foi encenação ou verdade? ...E eu? Escondi devidamente a minha tristeza, meus medos e minhas dores?)

Do passar das horas, das entregas que não queremos fazer por aí...
Eu sempre pensei que meus sentimentos não são do tipo "fast food" - não estão aí, sempre à pronta entrega ao primeiro que ligar. Há dias que me pedem para ser calabresa com muita cebola, mas eu só quero ser mussarela, com uma pitadinha de orégano por cima, e olhe lá!
Não estou vivendo o que não sou, mas estou me poupando de desabar publicamente. Gosto de dar chances a mim mesma, às tantas oportunidades de sorrir (apesar do caos) que estão à minha volta. Gosto de esquecer que estou triste.
Inicialmente, eu dizia como é horrível "ser atriz". Será tão horrível? Faz parte. Acho legítimo isso de conseguir sorrir, chorando por dentro. Além das defesas, algo "ali dentro" vibra e nos mostra fagulhas de luz. Novos enredos, mesmices singulares, deliciosas maneiras de se renovar. (ou não... mas toda tentativa vale!)
Eu me rendo à mim mesma. Viver a mesma coisa em dias diferentes muda tudo. Aproveito e faço bom uso. Vou chorar e ouvir meus vazios quando me deitar. Vou desabafar outro dia, num ombro que talvez tenha percebido meu vacilo no "tudo bem (uma ova!)".
Não! Não estou à espera de um flagra. Isso é chato demais. Estou, apenas, permitindo viver minhas fraquezas no tempo que me resta comigo mesma, tentando descobrir as origens de tudo.
É difícil falar quando nem mesmo sabemos por onde começar, quando nem mesmo sabemos quando começou.
A parte boa, em mim, é isso: saboreio minha tristeza. Acompanho meus silêncios, minhas fugas, meus gritos, minhas buscas, meus limites.
Recomeço, reconheço.

Às vezes, dá pra ser meia mussarela/meia calabresa... e depois a gente vê o que faz com as sobras - se guarda na geladeira, ou leva pra mais uma viagem.

"Oi, tudo bem?"

"(não tá) tudo bem (mas, logo vai ficar...)"


com alma, calma.



também não deve ser à toa que a palavra alma more dentro da cALMA e, assim, calma abrigue alma.
ou, então.. talvez, seja só um acidente sonoro que, com repetição, uniu o que sempre precisou estar junto "com alma, com alma... c'alma, calma".