domingo, 29 de dezembro de 2013

"you live, you learn..."


Que somos diante de tanta imensidão?
Casquinhas de ovo, finos gravetos, um sopro.
Mas, quanta coisa cabe em tanta brevidade!
Pensando nisso, e também pensando em minhas experiências deste único 2013, fica, para mim, a certeza e admiração da grandiosidade de minha estação nessa preciosa embarcação chamada Vida.
Altas e frias tempestades em alto mar. Quantas tentativas de nadar à favor do vento, e quantas outras de seguir em sentido contrário! Por outro lado, quanta calmaria e oportunidades de contemplação únicas; quanto ver o pôr do sol e a chegada da Lua! E ao ritmo da maré, de cada instante da força do vento, uma certeza: nunca abandonar o navio.
Por vezes, é comum nos cansarmos de comandar o leme, de ajustar ou não as velas, de escolher ou não a rota (nova ou velha). Mas, diante de tanta singularidade, de tantas maneiras de sermos gratos à experiência única que temos de estar vivos a cada dia, onde e em que(m) assegurar nossa razão de estar?
Não tenho e não quero resposta: ela é única e pessoal. Cada um tem a sua. Basta que permitamos conhecer cada compartimento do navio que nos abriga a alma, nesse grande mar sobre o qual nos movemos.
Todo final de ano, permito-me sentir o prazer de investigar os porões de minha morada íntima... Há tanta coisa que deixamos guardadas, embrulhadas, à mercê de um "daqui a pouco...". Que bacana abrir gavetas, usar o lixo mais adequadamente, reciclar, amassar, redescobrir, reaproveitar, valorizar. Que ótimo poder subir ao ponto mais alto do navio de nossas vidas e olhar tudo de cima, admirando o que fizemos de nossos cacos e analisando o que podemos fazer de/com nossos tesouros.
É belo demais poder fazer parte desse planeta. Como sou feliz por saber que não navego sozinha. Que bom reconhecer portos onde posso atracar, ter a certeza de onde é seguro ancorar, e ter "terra à vista" em meio ao vasto manto azul sobre o qual escolhi estar a bordo.
Assim, diante da certeza da fragilidade e pequenez que peregrina os meandros da imponente força da natureza (da qual nunca duvidei), desejo a todos a capacidade de reconhecer a grandeza e singularidade que nos cabe na soma das experiências de cada dia.
Vida breve? Vida frágil? Sim. E, pela mesma razão, igualmente valiosa (independente daquilo que cada um acredita haver reservado para depois dessa passagem...).
Que sempre re-signifiquemos nosso sentido de estar, estando.
Valeu, 2013! Seja bem vindo, 2014!

"São só dois lados da mesma viagem...". ;-)

sábado, 16 de novembro de 2013

é ferida que dói... e passa.

Entre todos os pesos, nós na garganta, e outras rusgas ironicamente comuns na arte do bem-viver, sinto, cada vez mais, que amar as pessoas poderia ser tão mais simples...


segunda-feira, 3 de junho de 2013

viaje sem malas.



Ontem assisti ao filme Tão forte e tão perto, dirigido por Stephen Daldry.
Não vou contar, nem ficar comentando a história, porque acho que "perde a magia", e também acho que, assim como os livros e demais obras artísticas, entrar em contato com as mesmas é uma relação muito íntima. Há quem goste de saber o que se passa, nos filmes e livros, antes. E, às vezes, dependendo do que se trata, eu sou assim. Mas, é inevitável o montante de frustrações que acumulei, ou de livros e filmes que relutei ou me recusei a entrar em contato depois de terem me bombardeado de opiniões a respeito... Satura. Perde o encanto. Portanto, não quero ser responsável por animar ou desestimular ninguém. Quem se sentir "chamado", fica o convite.

Como a breve sinopse fornece, o filme aborda a história de um menino - Oskar - que perdeu o pai no fatídico 11 de setembro de 2001. A relação de ambos era muito envolvente e, basicamente, o filme retrata o sentimento de perda em seus menores e maiores sentidos a partir, principalmente, da visão de Oskar.
Do início ao fim do filme, cheguei a perder a conta de quantas foram as vezes em que se formou aquele nó na garganta; de quantas foram as vezes em que chorei e respirei fundo. Lá pelas tantas, pensei "por que procurei esse tipo de filme? Eu gosto disso?". Não, não gosto da tristeza, das desgraças. E, embora eu reconheça a importância delas na dinâmica que nos equilibra na vida, não vou à locadora pensando "hoje estou disposta a assistir uma tragédia". Sinceramente, acho que nunca estou disposta a isso. Há dias em que nossas tragédias pessoais se bastam.
No entanto, encontrei uma resposta para mim mesma: Eu gosto de qualquer coisa que me deixe à flor da pele, que me ensine, que dê uma chacoalhada nas banalidades acumuladas do meu dia-a-dia. O filme não contou um fato que eu não conhecia, mas me mostrou outros lados da fragilidade humana, outros modos infinitamente maiores de se dizer "eu te amo" sem precisar dizê-lo.

Recomendo a visita ao vasto campo dos sentimentos velhos que tanto se renovam e nos re-significam diante da vida.
A dica é: Deixe as malas de lado, e baste-se em sua bagagem interior. E, então, aos que se permitirem: boa viagem!

segunda-feira, 8 de abril de 2013

cálice?



Calos.
Calos não são apenas aqueles que surgem com o atrito excessivo da pele dentro de um sapato apertado, ou aqueles que aparecem entre os dedos porque escrevemos demais. Esses calos doem, mas o procedimento é fácil. Basta mudar de sapato, reajeitar-se ou, muitas vezes, nem isso: um band-aid resolve.
Falo, aqui, dos calos que a pele não mostra, dos calos que se escondem em rostos repetidos em meio a dias comuns, festivos ou não. Tenho certa curiosidade pela história de vida das pessoas. Quantos calos a pessoa mais alegre e divertida que você conhece carrega por baixo da pele? Vejo, nessa pergunta cheia de respostas dedutivas, a capacidade de nos reerguermos, de nos reciclarmos diante dos lixos que recolhemos ao longo da vida. E, além disso, reconheço a importância dos sapatos apertados: eles nos indicam que é hora de parar de usá-los, que é hora de passá-los adiante, que é hora de andarmos mais descalços, de pisarmos mais no chão.
Por outro lado...  Ninguém se apresenta ao outro falando de seus calos. Mas, não é engraçado, irônico (ou hipócrita?) termos tantos sapatos apertados dentro de nós sem que sequer saibam o quanto eles nos apertam? Às vezes, acho que bate uma vontade imensa de atirar esses sapatos no primeiro estranho que aparece. Às vezes, não quero falar de meus velhos-calos-velhos para velhas-pessoas-velhas, e nem mesmo para as novas... quero falar dos meus calos para estranhos, para ver se, com eles, os calos vão embora, para ver se os calos se calam mais, e só. Eis a grande ironia: calos não se calam. Calos, mesmo em silêncio, gritam.. berram. No entanto, busca-se algo ou alguém que os cale mais do que nós mesmos.
Por mais outro lado, calos são resultado de repetição... Ainda no caso dos sapatos, andar devagar ou mudar a rota pode, no máximo, aliviar os calos... e nada mais.

Calejar, do verbo insistir. Aplicação em uma frase: insistir em sapatos - novos ou velhos - que pegam/apertam, caleja.

Por outro lado do mesmo outro lado: insistir no que machuca é calejar-se dolorosamente. Enquanto insistir no que fortalece é calejar-se sabiamente.

Calo, mas, mesmo calada, não calo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

cê que sabe.



de tudo o que lhe for possível
desde o maior dos pecados ao mais puro gesto concebível
ser-lhe-ão entregues, como num sopro de vento, oportunidades
e em cada uma delas, por escolha ou sorte, apoiar-se-ão tuas identidades

só não pense que estarão gritando pelas ruas,
oportunidades não são como mulheres nuas
mas, afinal, como é que elas são?
não defino, mas ajudo: já começam na tua imaginação

o destino se traça menos por meta e mais por escolha
escolha: uma dê-cisão agora
nessa hora
com ou sem demora
para saberdes se fica ou vais embora


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

2013. Platão, você esteve aqui?



num mundo onde há pessoas que matam por dinheiro, onde há pessoas que matam pessoas; num mundo onde furam filas, subornam, e onde não toleram a música alta do vizinho em uma comemoração especial... num mundo onde há pessoas que pagam fortunas por pratos exóticos de comida enquanto outras sequer podem comer pão com as mãos limpas; num mundo onde a diversão fica acima da segurança, onde ver o colega drogado é engraçado, onde ver alguém se tornar alcoólatra silenciosamente significa ter história pra contar; num mundo onde procura-se corpos antes de personalidades, onde o carnaval (quase predominante?) é o feriado no qual tudo pode ser feito sem culpa (lê-se: sem responsabilidade) porque "ah, é carnaval, pô!"... num mundo onde... onde o "mito da caverna" de Platão é só um mito (?).

Mi(n)to.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Eu não conheço a humanidade...



Semana passada, enquanto eu pedalava pelas ruas de minha cidade, um cachorro avançou - começou a latir, rosnar em minhas canelas. Eu, com medo, mas tentando manter a calma, diminuí a velocidade sem descer da bicicleta. Em "vão", apelei mentalmente dizendo "São Lázaro! São Lázaro!" (que contava, meu avô, ser o santo 'dos cachorros' ou dos animais... não sei ao certo, perdão). Atravessei a pista para ver se o cachorro "mudava de ideia", mas não teve jeito... ele atravessou comigo, insistindo naquela tortura. O homem que ali via tudo, atravessou a pista pouco antes de mim e tentou chispar o pobre cão para ajudar a pobre moça. Não adiantou. Mais adiante, a moça da moto estacionada, que estava de saída, fez o mesmo e chispou o cachorro: shhhhhhhh!
Aproveitei o pouco tempo de dúvida do cachorro e, rindo, e sem olhar para trás, continuei meu passeio. 

Que situaçãozinha, não? Sempre que o cão não morde, é cômico... e é o que sobra no final - riso.
De qualquer forma, nem sei dizer há quanto tempo isso não acontecia comigo. De verdade!
E então, hoje, lembrando desse medo que eu não sentia há tempos, pensei: não é bizarro vivermos em um mundo organizado por nós mesmos e, ainda assim, sermos nosso próprio inimigo? Acho ridículo ter medo de passar no bairro X, ter medo de dormir com a janela aberta, ter medo de deixar minha bolsa no banco enquanto vou beber água, ter medo de levar o celular no bolso em shows, ter medo de... Não é ridículo e (não deveria ser inadmissível?) ter medo dessas coisas tão naturais, simples e até tolas?
É uma pena a humanidade ter evoluído (?) tanto...
O cachorro que me perseguiu fez o que é de sua natureza... no seu nariz de cão, farejou alguma coisa que não gostou ou sei lá o que.
E o homem? É... talvez o homem esteja insistindo em sua natureza também, aquela da ordem primata. Mas, peraí... Parece-me que caçavam animais de espécies diferentes da sua, não é?

Pronto! Então, é isso! Graças a Deus, eu conheço pessoas humanas. E isso faz uma diferença gigante na minha vida. Mas, lamentavelmente, eu não conheço a humanidade... 
Meus medos me transformam numa presa que teme (mas ri de) um cachorro bravo, enquanto teme e se esconde do homem "bom", "civilizado"...